Catálogo da BE

sábado, 14 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.


Porque é que as rodas dos combóios são de ferro?

História do Dia.

Lágrimas

Por António Torrado | Cristina Malaquias



Era uma vez uma lágrima, uma lágrima de constipação. Sabem como é: o pingo no nariz, os olhos a arder, um espirro, outro espirro, e uma lágrima que se solta pelo cantinho do olho e escorrega, bochecha abaixo?
Era uma vez uma lágrima, uma lágrima de riso. Sabem do que falo: de tanto rir, tudo estala em nós e as lágrimas saltam dos olhos como fogo-de-artifício, foguetes de lágrimas?
Eram, pois, duas lágrimas.
Encontraram-se, no mesmo lenço.
- Ouvi dizer que também há lágrimas de tristeza - contou uma.
- Custa-me a acreditar - disse a outra.
Era a do riso quem assim falava.
Mas uma terceira lágrima chegou ao lenço. Tão de água, tão salgada como as outras. E da fonte dos mesmos olhos. Mas esta era diferente.
- Sou uma lágrima de dor - apresentou-se ela.
Seria verdade? Às outras duas parecia impossível. Quem a soltara, constipado que estava, ainda há pouco rira até às lágrimas. Como é que se pode passar, assim tão de repente, da alegria à mágoa?
- O que aconteceu, entretanto? - quiseram saber as duas lágrimas mais antigas.
- Foi um entalão - explicou a recém-chegada. - Quem me soltou tinha ido buscar um lenço dobrado à gaveta e, entretido a rir, ao fechar, entalou um dedo.
- Há desgraças piores - comentou a lágrima da constipação.
- Prefiro nem saber - suspirou a lágrima do riso.
O resto da conversa já não acompanhei, porque eu, o dono das três lágrimas, desfiz-me do lenço molhado para dentro da roupa suja. Lenços não me faltam, brancos ou às cores e para todas as ocasiões da vida.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.

Qual é coisa, qual é ela, que atravessa todas as portas sem nunca entrar nem sair por elas?

História do Dia.

Promessas de Lobo


Por António Torrado | Cristina Malaquias

Um lobo, que tinha sido apanhado numa armadilha, prometeu que mudaria de hábitos alimentares, se o poupassem.
- De agora em diante, vou deixar de comer carne - garantiu ele aos homens que o tinham caçado. - Passo a comer ervas e, uma vez por outra, um peixinho de rio. Palavra de lobo!
Os homens deixaram-no ir, enquanto riam e faziam apostas.
- Ele não vai ser capaz - diziam uns.
- Talvez seja - contradiziam outros.
O lobo cumpriu o prometido. Tasquinhava ervinhas como um cordeiro. Comia frutos silvestres como um macaco. Roía raízes como uma toupeira.
Mas, um dia, deu com um enorme porco de mato, que tomava banho no rio.
- Que grande peixe! - exclamou o lobo, de olhos a luzir. - Há que tempos que não como nada de jeito.
E atirou-se ao porco de mato, mas como andava fraco e perdera o jeito, deixou escapar o porco e caiu de focinho na água.

Concurso Dia Mundial do Professor.

No âmbito das comemorações do Dia Mundial do Professor a Federação Nacional dos Professores decidiu promover, em parceria com a DELTA Cafés, no ano lectivo de 2011/2012, um concurso que, envolvendo os nossos alunos, revele o olhar que estes têm do(s) seu(s) professor(es)/educador(es) de infância – representação próxima da imagem que é captada sobre a importância social dos docentes pela generalidade dos cidadãos.
Todas as pessoas têm uma história e a história de um professor é feita, precisamente, desta relação tão próxima que é estabelecida com os seus alunos e os restantes membros das comunidades escolares.
O que se propõe é, portanto, que através da expressão plástica (desenho, pintura e recorte/colagem) os nossos alunos possam responder às perguntas:
• Qual a imagem que têm da importância social do professor
• O que representa(m) o(s) seu(s) Professor/Educador(es) na(s) sua(s) vida(s)
Regulamento
1. Organização: FENPROF – Federação Nacional dos Professores.
2. Apoio(s): Delta Cafés, Escolas e Jardins de Infância.
3. Destinatários: Crianças dos jardins de infância e alunos das escolas do ensino básico e do ensino secundário.
4. Objectivos: contribuir para a reflexão sobre a importância de ser professor; reconhecer a complexidade do exercício profissional docente; conhecer melhor o(s) docente(s) das escolas onde estudam; desenvolver o espírito crítico; estimular a criatividade; discutir um tema relevante para escola e para a sociedade portuguesa; estimular a construção de uma imagem positiva do(s) professor(es) dos nossos alunos.
5. Cada estabelecimento de ensino poderá apresentar até 5 trabalhos.
6. Os trabalhos devem ser apresentados em suporte de papel com a dimensão mínima de 42 X 30 cm e máxima de 60 X 40 cm.
7. As candidaturas deverão ser apresentadas pelos estabelecimentos de ensino.
8. O trabalho entregue na sede da organização do Concurso deve ser o original, não podendo ser, em caso algum, uma cópia do original.
9. As candidaturas, acompanhadas do(s) respectivo(s) trabalhos, devem ser apresentadas até ao dia 31 de Março de 2012.
10. As candidaturas devem ser enviadas por regiões (áreas sindicais) para as sedes dos respectivos sindicatos da área sindical respectiva (SPN, SPRC, SPGL, SPZS, SPM, SPRA, SPE) ou para a sede da Federação Nacional dos Professores – FENPROF, Rua Fialho de Almeida, 3 – 1.º, 1020-170 LISBOA.
11. Os trabalhos devem ser firmados com pseudónimo e acompanhados de envelope fechado, contendo o nome do estabelecimento de educação ou de ensino, nome do/a autor/a ou autores/as, ano de escolaridade, idades e turma a que pertencem, para além do nome da/o docente responsável por acompanhar a criação artística a concurso. No exterior do envelope deverá constar o pseudónimo.
12. Sempre que for apresentado mais de um trabalho por escola ou agrupamento, os mesmos devem ser submetidos em separado, com pseudónimos diferentes.
13. O Júri será designado pelo Secretariado Nacional da FENPROF e pela Delta Cafés e será composto por: um membro do Secretariado Nacional da FENPROF, um(a) docente das áreas de expressão e comunicação visual, um artista plástico e uma pessoa indicada pela Delta Cafés.
14. O Júri poderá não atribuir qualquer prémio, por entender não haver qualidade suficiente que o justifique.
15. O Júri pode atribuir menções honrosas.
16. Das decisões do Júri não há recurso.
17. As situações omissas neste Regulamento serão decididas pelo Júri.
18. Serão atribuídos os seguintes prémios:
a) Melhor trabalho a concurso:
• Educação Pré-Escolar – €100,00
• 1.º Ciclo do Ensino Básico – €100,00
• 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico – €100,00
• Ensino Secundário – €100,00
• Educação Especial – €100,00
b) Edição de 10 Pacotes de Açúcar reproduzindo os 10 melhores trabalhos a concurso.
c) Realização de uma exposição itinerante com uma selecção dos 50 melhores exemplares da totalidade dos trabalhos a concurso, para cuja inauguração, em 5 de Outubro de 2012, serão convidados especiais os artistas premiados.
19. A indicação pública dos vencedores será feita no dia 30 de Junho de 2012.
20. A FENPROF não se obriga a devolver os trabalhos premiados a concurso.
21. Serão excluídos os trabalhos que não respeitem as condições previstas neste Regulamento.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O novo livro de Margarida Fonseca Santos.

Em Fevereiro!

A Margarida vai para o 5.º ano numa nova escola e é lançada, de repente, num mundo de gente crescida, ou quase… Mas depressa vê ruir todas as expectativas: o recreio é grande de mais, os professores são muitos e deixam-na baralhada, não conhece praticamente ninguém. E o pior, para a 6ª filha da família Machado, vai ser a troça de que é alvo por parte de certos colegas. Ao longo do 1º período, a Margarida percebe que odeia a nova escola, e que a única hipótese que lhe resta é fugir, preparando uma embrulhada de tal forma tola, que nem ela própria sabe como resolver: zanga-se com a Laurinha, a sua melhor amiga de sempre, a Alice adoece, e desaparece-lhe o conteúdo inteiro do cacifo. Tudo acontece à pobre Margarida, que até tem o azar de, num dia especial, ver a sua cabeça habitada não só por pensamentos, mas por uma colónia inteira de piolhos que a obrigam a mudar de planos. No meio de um caso de detectives, a Margarida tem de aprender a viver com um feitiço desconhecido que de repente se vira contra o feiticeiro e a faz perceber o significado da palavra saudade.

Adivinha do Dia.

Sou mais vasto do que o mar e ninguém me pode ver, todo o mundo é meu lugar, sem mim não podes viver.

História do Dia.

As Hastes do Veado Vaidoso

Por António Torrado | Cristina Malaquias


Era uma vez um veado que tinha em grande apreço as suas hastes recortadas, que lhe davam à cabeça um ar de majestade.
Quando ia dessedentar-se no lago, tanto bebia como se mirava.
- Que gloriosos chifres os meus! Nenhum animal de cornos os tem tão formosos.
Em contrapartida, as patas delgadinhas desgostavam-no. Debruçado para a água, comparava-as com a volumosa e artística cornadura, e dizia:
- As minhas pernas estão desproporcionadas com os outros extremos do meu corpo. Não fossem elas assim tão estreitas e eu seria o mais elegante dos animais.
Nisto, o veado ouviu, não longe, o uivo de trompas de caça. Ele sabia o que aquela música significava. Fugiu.
Caçadores a cavalo perseguiram-no. Corriam os cavalos a galope e corria o veado, com quantas pernas tinha.
Ágeis, as pernas, no arremesso do medo, saltavam barrancos, venciam precipícios, quase voavam. O veado só pedia que o vigor das pernas não o abandonasse.
Mas, num túnel de ramos, os galhos do veado embaraçaram-se nos troncos e suspenderam-lhe a corrida. Já se aproximavam os cavaleiros. Os belos chifres estavam a deitá-lo a perder.
Sentindo-se perdido, o veado deu um sacão ao corpo e metade de um chifre, que estava preso, partiu-se. Deixá-lo. O veado livrou-se.
As pernas retomaram a fogosa carreira da salvação e o veado conseguiu escapar dos caçadores.
Já livre de perigo, o veado pôs-se a pensar no que lhe sucedera. As pernas, que ele há pouco desprezava, tinham-no salvo. As hastes da sua vaidade por pouco que não o atraiçoavam.

Concurso Nacional de Leitura (CNL): alunos finalistas e suplentes.

Concurso Nacional de Leitura (CNL): resultados finais.

Museu Guggenheim.

O famoso Museu Guggenheim, com sede em Nova Iorque, anunciou a disponibilização de seus livros fora de catálogo no formato digital, gratuitos. A digitalização foi feita em parceria com o The Internet Archive, biblioteca digital sem fins lucrativos que tem como missão, desde 1996, o “acesso universal a todo o conhecimento”, oferecendo armazenamento permanente e acesso a coleções de sites, músicas, vídeos, e quase 3 milhões de livros de domínio público.
É possível ler os livros no próprio site, online, ou então baixá-los com uma qualidade menor para o seu computador. O uso é livre, mas não comercial. Uma brilhante iniciativa que só poderia vir de um grande museu como esse. Ninguém pode reclamar que não há o que ler sem gastar dinheiro!
Acesse o arquivo nesse link.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ler em Português.

A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura lançam, em 2011.12, a 1ª edição do concurso Ler em Português, com o intuito de promover a utilização da Língua Portuguesa, aumentar as práticas de leitura e aprofundar a troca de experiências entre alunos e professores portugueses e norte-americanos.
Esta iniciativa conta, ainda, com a colaboração, no acompanhamento e divulgação locais, de outras entidades, designadamente a Secretaria Regional da Educação e Formação – Região Autónoma dos Açores, da Secretaria Regional da Educação e Cultura – Região Autónoma da Madeira e da Coordenação do Ensino de Português nos Estados Unidos da América.
Num mundo globalizado em que cada país está aberto à influência dos outros, podendo também influenciá-los, é necessário conhecer, de facto, a realidade dos diferentes povos e culturas, para que as diversas identidades se desenvolvam em harmonia, equilíbrio e com abertura ao exterior. Com este concurso, que se espera estimulante, a grande atração que a cultura norte-americana exerce sobre os jovens portugueses poderá ser compensada por um maior conhecimento da realidade cultural portuguesa pelos jovens norte-americanos, através da utilização ativa das redes que hoje nos fazem comunicar e vencer as distâncias geográficas.
Utilizada por mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo como veículo de comunicação, a Língua Portuguesa torna-se, cada vez mais, um idioma universal que importa difundir com o intuito de aproximar culturas, divulgar autores e criadores, transmitir conhecimentos, ideias, reflexões e pontos de vista diversos, sobre a realidade intelectual e a vida social.
Acreditamos que a parceria estabelecida entre a FLAD, a RBE e o PNL permitirá criar comunidades de leitores, numa perspetiva aberta e cosmopolita, tendo como base a construção de uma cidadania responsável e plural, consciente dos matizes culturais que interagem no quotidiano das sociedades do século XXI.

Mais informações ou esclarecimentos sobre o concurso Ler em Português podem ser solicitadas, por correio eletrónico, para info@lerportugues.net.

Adivinha do Dia.



Qual é o bicho qual é, sem osso nem espinha?

História do Dia.

A Galinha Pinta

Por António Torrado | Cristina Malaquias


A minha galinha pinta
põe três ovos ao dia,
se ela pusesse quatro
que dinheiro não faria!

Já me deram pela cabeça
uma vaquinha moiresca.
Já me deram pela crista
uma vaquinha moirisca.
Já me deram pela moela
uma vaquinha moirela.
Já me deram pelas penas
duas vaquinhas morenas.
Já me deram pelo rabo
um cavalo enfreiado.

Já me deram pelas tripas
duas feixadas de fitas.
Já me deram pelas asas
uma aldeia com dez casas.
Já me deram pela língua
a cidade de Coimbra.
Já me deram pelas pernas
umas meias amarelas.
Já me deram pelo corpo
toda a cidade do Porto.

Galinha que vale tanto
das penas até ao osso
não vai parar ao convento.
Vou eu comê-la ao almoço.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.

O que será, que será, que o livro de Português disse ao livro de Matemática?

História do Dia.

Uma Carica e Tanto

Por António Torrado | Cristina Malaquias



Vou contar-vos, hoje, a história desta carica. Não é uma carica qualquer. Desde que nascera que sabia que estava reservada para altos destinos. Descendia da lata, pois descendia, mas à lata não voltaria.
Amoldada, como milhares das suas irmãs, à boca de uma garrafa, foi à vida com a garrafa a que a juntaram.
Um dia, uma pressão - tche! E rua, chão... Chão com a carica que já não serve para nada.
Quem disse que já não serve para nada? Agora é que ela ia começar a viver. Que aventura!
Primeiro, foi moeda de troca. ?Dou-te uma carica destas. Dá-me duas das outras."
Andou por várias colecções, conheceu muitos bolsos, muitas mãos... Sentiu-se moeda de peso, das fortes, das que não se desvalorizam, libra, dobrão de ouro ou mais ainda.
Depois, conheceu o entusiasmo das corridas, na beira dos passeios. Ganhou provas, fez-se notar. Bastava um piparote e lá ia ela, a carica motorizada, a caminho da vitória.
Mas o melhor da festa, o seu dia de glória, foi quando medalhou o peito de um ?general" de brincar por casa. Nesse dia, sentiu-se a estrela mais brilhante da constelação das caricas.
Se lhe perguntassem, então:
- Carica, quanto vales?
Ela responderia:
- Tanto ou mais do que peso. A minha fortuna está no que sirvo. Entrei em muitas corridas, participei em muitas colecções, viajei muito, conheci imensa gente. Não tenho preço. Fui moeda, peso, monóculo, prato, chávena, pires, taça, medalha, automóvel...
Para ser isto tudo e mais ainda, hás-de concordar que é preciso ter muita lata.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.


Qual é coisa, qual é ela, que cai de muito alto mas nunca se aleija?

História do Dia.

O Burro e o Leão

Por António Torrado | Cristina Malaquias



O burro andava muito feliz. Sentia-se o rei da criação, isto é, o rei das galinhas, dos patos e dos perus do quintal onde vivia. E também das cabras, dos porcos e das ovelhas, porque aquele quintal era muito povoado.
Quando ele zurrava, todos fugiam.
As zurradelas do burro, realmente, eram de tal força, que assustavam qualquer bichinho. Até o cão se afastava, em sinal de respeito.
- Nunca imaginei que possuísse tanto poder? - dizia de si para si o burro, todo inchado de bazófia.
E fartava-se de zurrar, a torto e a direito, clamando que era ele o rei? iam-iam!.. o rei? dos? iam-iam!... dos animais? iam-iam!
Vozes de burro não chegam ao céu, diz-se, mas chegaram aos ouvidos do leão.
- Não sabia que tinha concorrentes de tamanha qualidade - disse ele, num breve rugido de ironia.
Estava bem-disposto o leão. Tinha-se refastelado com um suculento almoço de carne de javali, entremeado com o resto de um cabrito, que sobrara do jantar anterior. Tão cedo não ia ter vontade de comer e muito menos de comer carne de burro, que enjoava. O leão era de gostos mais apurados.
Sua Majestade espreguiçou-se, arrotou (com licença!) e disse:
- Vamos lá visitar esse fenómeno que se proclamou o rei dos animais.
Encontrou o burro a pastar num outeiro, não longe do quintal, onde tinha estábulo.
O burro, quando o viu, estremeceu, mas não quis dar parte fraca. Nem parecia bem que um rei, coroado de tão altas orelhas, sinal de majestade, fugisse diante de um animal de quem se não viam as orelhas, escondidas pela farta juba. O burro tinha a coragem dos simples. E dos ignorantes.
- Constou-me - começou o leão -, constou-me que te intitulas o rei dos animais. É verdade?
- É - respondeu, singelamente, o burro.
- Em que te baseias para ostentar o título? Donde te vem tal pretensão? Os teus pais ou os teus avós já eram reis da natureza animal? - questionou o leão, não sustendo a cólera. - Quantos reis burros houve antes de ti?
- Iniciei a dinastia - explicou o burro. - Iniciei a dinastia, com a força da minha voz. Queres ver?
- Estou cheio de curiosidade - disse o leão, sentando-se nas patas traseiras. - Demonstra-me, então, os teus predicados reais.
O burro repuxou o ar para os pulmões e, do alto do outeiro, trombeteou uma zurradela tão poderosa que gafanhotos, perdizes, estorninhos, lebres e coelhos do mato saltaram de todos os lados, num grande alarme. Lá longe, no quintal, os galináceos mandaram as galinhas para a capoeira e eles correram atrás. O mesmo fizeram os patos e os perus. Zurrar do burro equivalia a sirene dos bombeiros ou toque de recolher.
- A minha voz não tem igual. Assusto a bicharada em meu redor, como acabo de demonstrar - disse o burro, tossicando de importância.
- Efectivamente, possuis uma voz, que faz tremer as folhas - reconheceu o leão. - E como vamos de sombra?
- De sombra? - intrigou-se o burro.
- Sim, de sombra - insistiu o leão. - Queres reparar? Ora toma atenção.
Aqui o leão interpôs o corpo entre o sol e o quintal. A sua sombra majestosa projectou-se sobre a capoeira, a coelheira, o estábulo e o cortelho. Um vozear de pânico despegou-se da natureza, fosse brava ou mansa:
- O leão! - como o rolar de trovoada ao longe.
Depois, fez-se silêncio e frio, nem que tivesse descido, repentinamente, a noite. Até as cigarras pararam de serrar o sol.
O burro sentiu esse raio paralisante, que atravessava tudo, e borrou-se de medo.
Já o leão se afastava, pausada e majestosamente. Não precisava de dizer mais nada. A verdadeira grandeza dispensa zurradelas.
Em sentido contrário ao do leão, o burro, de orelhas caídas, desceu o outeiro, em direcção ao quintal. Recolhia à estrebaria e levava muito em que pensar.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Empréstimo domiciliário para Encarregados de Educação.

A Biblioteca Escolar, no presente ano letivo, lança o empréstimo domiciliário para Encarregados de Educação. Deste modo, os Encarregados de Educação têm a possibilidade de requisitar, para empréstimo por quinze dias, as obras pertencentes ao fundo documental desta Biblioteca Escolar. Do mesmo modo, convidamos todos os Encarregados de Educação que o desejem a planificar, conjuntamente com os professores bibliotecários, momentos/sessões de leitura e/ou outras atividades motivadoras desta competência no espaço físico da Biblioteca Escolar. Para tal, basta entrar em contato com os Professores Bibliotecários através do correio eletrónico biblio23@escolasabelheira.com, do telefone da escola ou através do Diretor de Turma.

Livro do Mês.

O Anibaleitor

O Anibaleitor conta a história de um jovem que, fugido à «guarda do reino», embarca numa viagem em busca de um mítico e fabuloso animal, Anibaleitor. Livro de aventura da leitura. Nesta magnífica novela, Rui Zink consegue ser, ao mesmo tempo, divertido, didáctico, comovente e, como sempre, estimulante.
Se ainda não o leste, fá-lo porque vais ter momentos de leitura hilariantes! Depois de leres o livro, deixa aqui o teu comentário.

Adivinha do Dia.


Tenho dentes mas não como, e para comer fui feito; ando sempre com comer, para comer não acho jeito.





História do Dia.

São Flores

Por António Torrado | Cristina Malaquias

Estava uma flor bordada num saco de guardanapo a olhar para uma flor pintada numa jarra de porcelana. E vice-versa.
A flor bordada queria meter conversa com a flor pintada. E vice-versa.
Entretanto, a flor bordada pensava: ""Sou mais bonita do que ela."" E vice-versa.
Até que a flor bordada resolveu dizer precisamente o contrário do que pensava:
- Nunca vi flor mais bonita do que tu.
A flor da jarra retorquiu, no mesmo tom:
- Tu, sim, és a mais bonita. Uma perfeita imitação.
Neste ponto, a conversa estragou-se.
- Imitação? - estranhou a flor do saco de guardanapo. - Imitação de quê?
- Imitação de uma flor verdadeira - respondeu a flor pintada na jarra.
- Ora essa! Eu sou uma flor incomparável, uma flor bordada, verdadeiramente bordada com toda a verdade da arte.
Agora, enfim, estava a dizer o que pensava. Não lhe ficou atrás a outra flor:
- Verdadeira obra de arte sou eu. Não há flor pintada mais autêntica, pode crer.
Argumentaram, discutiram, zangaram-se. Perderam a elegância do trato. Passaram a dizer mais do que pensavam:
- Você é uma reles imitação - dizia a flor pintada.
- E você é uma falsificação barata - dizia a flor bordada.
Nisto, mãos femininas vieram colocar uma flor na jarra, até então vazia.
- Qual é o tema da discussão? - quis saber a recém-vinda, debruçada da jarra.
Puseram-na a par da disputa e logo a nova flor, que era dotada de um caule esguio, folhagem vaporosa e pétalas gentis, rodopiou na jarra de porcelana, para dizer, num risinho de superioridade:
- Não sejam ridículas e olhem para mim. Haverá flor mais encantadora e mais verdadeira do que eu?
As duas outras calaram-se. Afinal, a flor de folhas frágeis, que qualquer corrente de ar agitava, a flor de longa haste, mergulhada na jarra, é que tinha razão.
Aqui para nós e em segredo, diremos que também não tinha razão nenhuma. Pois se ela era apenas uma simples flor de papel...