Catálogo da BE

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Clube das Histórias Projecto: Abrir as portas ao sonho e à reflexão

A Caixa da Liberdade


Em meados do século XIX, havia quatro milhões de escravos nos Estados Unidos. Os escravos eram propriedade dos donos, como se fossem mesas, vacas, ou carroças. Os historiadores pensam que entre 60.000 e 100.00 escravos recuperaram a liberdade através do Caminho-de-Ferro Clandestino.O Caminho-de-Ferro Clandestino não era um verdadeiro caminho-de-ferro. Era um conjunto de rotas que os escravos seguiam quando fugiam para Norte. Escondiam-se em carroças, andavam a cavalo, caminhavam centenas de quilómetros através de florestas e pântanos, atravessavam rios caudalosos no Verão e superfícies geladas no Inverno. Eram ajudados por “chefes de estação” e “cobradores” que os escondiam e auxiliavam ao longo da fuga.Quando Henry Brown entrou na sua “Caixa da Liberdade”, acreditava que esta o transportaria para um mundo seguro. Levou com ele uma ferramenta para abrir buracos na caixa para respirar, um pouco de água e alguns biscoitos. Quando chegou a Filadélfia, vindo de Richmond, na Virgínia, tinha percorrido uma distância de 560 quilómetros em 27 horas.A sua história foi objeto de notícia na América e na Europa. Henry nunca encontrou a mulher e os filhos. Em 1850 foi para Inglaterra e há quem diga que voltou a casar. Mas o que é certo é que Henry “Box”[1] Brown se tornou um dos fugitivos mais célebres do Caminho-de-Ferro Clandestino – o homem que “encomendou” a sua liberdade. ▲▲▲▲▲ Henry Brown não sabia a idade. Era um escravo, e os escravos não podiam saber quando faziam anos. Trabalhava, juntamente com os seus irmãos e irmãs, na casa grande da plantação, onde vivia o dono. Este sempre fora bondoso para com eles. Mas a mãe de Henry sabia que esta situação podia mudar. Um dia, comentou com o filho:― Vês aquelas folhas a esvoaçar? Foram arrancadas das árvores, tal como os filhos dos escravos são arrancados às suas famílias.E uma bela manhã, o patrão mandou chamar Henry e a mãe. Ambos subiram a escadaria larga que conduzia ao quarto. O dono estava na cama e só a sua cabeça emergia do edredão. Estava muito doente e pediu-lhes que se aproximassem. Como alguns escravos estavam a ser libertados pelos donos, o coração de Henry bateu com força. Talvez o dono o fosse libertar. Porém, o patrão disse:― Tens sido um bom trabalhador, Henry. Vou dar-te ao meu filho. Deves obedecer-lhe e nunca contar mentiras.Henry acenou com a cabeça, mas não agradeceu. Agradecer seria mentir. Na tarde desse mesmo dia, Henry viu um pássaro voar bem alto para longe das árvores. “Um pássaro livre! Um pássaro feliz!”, pensou. Depois, despediu-se da família. Quando olhou para os campos, as folhas rodopiavam ao vento. O rapaz foi trabalhar para a fábrica do novo patrão e trabalhava bem. Mas isso não o impedia de gritar com ele, e de o ameaçar com um bastão:― Não rasgues essa folha de tabaco!Se os escravos cometessem algum erro, o patrão batia-lhes. Henry sentia-se só. Mas, um dia, conheceu Nancy, que andava às compras para a patroa. Puseram-se a conversar, enquanto caminhavam juntos, e concordaram em voltar a encontrar-‑se. O rapaz tinha agora vontade de cantar, embora os escravos não se atrevessem a cantar na rua. Em vez disso, trauteou disfarçadamente a caminho de casa. Meses mais tarde, Henry pediu a Nancy que se casasse com ele. Depois de os patrões de ambos concordarem, os jovens casaram-se. Em breve nasceu um filho, e depois outro, e logo outro. Henry sabia que tinham sorte em viverem juntos, apesar de terem patrões diferentes. Mas Nancy preocupava-se, porque o seu dono tinha perdido muito dinheiro. Um dia confessou ao marido:― Temo que ele venda os nossos filhos. Henry ficou muito calado. Nessa manhã trabalhou arduamente, tentando esquecer o que a mulher lhe dissera. Mas, de repente, o seu amigo James entrou na fábrica e sussurrou-lhe:― A tua mulher e os teus filhos acabam de ser vendidos no mercado de escravos.― Não! ― gritou Henry.De repente, não conseguia mexer-se, nem pensar, nem trabalhar. ― Mexe esse tabaco! ― gritou o patrão, empurrando-o com o bastão. Enquanto mexia as folhas de tabaco, o seu coração remexia no peito. À hora de almoço, foi ao centro da cidade. Viu um grupo de escravos atados uns aos outros e o novo dono a gritar com eles. Henry procurou a família.― Pai! Pai! ― ouviu chamar.Foi então que viu os filhos desaparecerem ao longe na rua. Onde estaria Nancy? Viram-‑se ao mesmo tempo, mas era tarde demais. Depois de limpar as lágrimas, Henry deu-se conta de que também ela desaparecera. Henry deixou de cantar e até de trautear. Ia trabalhar e, à noite, comia e ia para a cama. Tentou lembrar-se dos tempos felizes que passara, mas só conseguia ver as carroças a transportarem para longe todas as pessoas que amava. Sabia que não voltaria a ver a família. Passaram-se muitas semanas. Certa manhã, Henry ouviu um pequeno pássaro cantar e viu-o voar em direção ao céu. E pensou que podia ser livre. Mas como? Quando pegou numa caixa de madeira, soube a resposta. Pediu a James e ao Dr. Smith para o ajudarem. O Dr. Smith era um branco que pensava que a escravatura estava errada. Encontram-se num armazém vazio no dia seguinte, pela manhã. Henry transportava uma caixa. ― Irei como encomenda para um lugar onde não haja escravos! ― anunciou.James olhou para a caixa e depois para Henry.― E se tossires e alguém te ouvir?― Taparei a boca e terei esperança ― respondeu Henry.O Dr. Smith escreveu na tampa da caixa: Para: William H. JohnsonArch Street Filadélfia, Pensilvânia. Henry seria entregue a amigos na Pensilvânia. O médico também escreveu na caixa, em maiúsculas: ESTE LADO PARA CIMA.TRATAR COM CUIDADO. Henry precisava de uma desculpa para ficar em casa, ou o patrão pensaria que ele tinha fugido. James lembrou-lhe o dedo magoado. Mas o amigo sabia que não era desculpa suficiente. Abriu, então, uma garrafa de ácido.― Não! ― gritou James.Henry deitou o ácido na mão e sentiu que a queimadura penetrava nos ossos. Agora o patrão deixá-lo-ia ficar em casa! O Dr. Smith pôs-lhe uma ligadura e concordaram em encontrar-se na manhã seguinte, às quatro horas. Ainda o sol não se erguera, e já Henry se enfiava na caixa.― Estou pronto! ― anunciou. James pregou a tampa da caixa e, juntamente com o Dr. Smith, levou-a para a estação. O empregado do caminho-de-ferro virou a caixa e pregou um papel no fundo. O médico pediu aos carregadores que tivessem cuidado, mas ninguém lhe prestou atenção e atiraram a caixa para o vagão das mercadorias. Passaram-se horas, durante as quais Henry foi novamente levantado e atirado, ficando de cabeça para baixo. Ouviu ondas a bater. Devia estar a bordo do navio que ia para Washington, D.C. O barco navegava devagar, mas o escravo ainda estava virado ao contrário. O sangue subiu-lhe à cabeça, as faces ficaram afogueadas, os olhos doíam-lhe, e pensou mesmo que a cabeça ia rebentar. Mas nem se atrevia a mexer, com medo de que alguém pudesse ouvi-‑lo. ― Estou cansado de estar de pé! ― disse uma voz.― Porque não nos sentamos nesta caixa? ― sugeriu uma outra.Henry nem conseguia respirar. Será que estavam a falar da sua caixa? Sentiu-se empurrado. A caixa raspou o convés do navio. Viraram-no para o lado direito e para o esquerdo. De repente, sentiu-se virado para cima.― O que pensas que está aqui dentro? ― perguntou um dos homens.― Correio, acho ― respondeu o outro.“Sou correio, sou, mas não do tipo que imaginam”, pensou Henry. Quando a viagem terminou, a caixa foi levada para fora do navio e colocada numa carruagem de comboio. Desta vez, seguiram as instruções. Henry adormeceu ao som das rodas do comboio. Acordou com uma pancada forte. ― Henry, estás bem? ― perguntou uma voz.― Estou ― respondeu.  A tampa foi levantada. O escravo estirou os braços, levantou-se e deparou com o sorriso de quatro homens. ― Bem-vindo a Filadélfia!Henry sabia agora que fazia anos a 30 de Março de 1849, o seu primeiro dia de liberdade. A partir desse dia, também ganhou outro nome: todos passaram a chamar-lhe Henry “Box” Brown. Ellen Levine; Kadir NelsonHenry’s freedom box – A true story from the Underground RailroadNew York, Scholastic, 2007(Tradução e adaptação)

Semana SeguraNet.

No dia 7 de fevereiro de 2012, comemora-se o Dia da Internet Segura. Para que este dia seja assinalado na comunidade escolar, convidamos todas as escolas a dinamizarem atividades sobre as temáticas relacionadas com a Segurança na Internet, na segunda semana do mês de Fevereiro de 2012.
Vamos envolver a escola! Esta é a oportunidade perfeita para introduzir, ou reforçar, o tema da Segurança na Internet entre os alunos, professores, funcionários, encarregados de educação e pais, bem como consolidar os conceitos que, eventualmente, terão sido, ou virão a ser, abordados na sala de aula. Este ano o tema do SID é “Aproximar Gerações” e o slogan "descobrir o mundo digital em conjunto... com segurança!" pelo que se apela às escolas que desenvolvam atividades que abranjam o maior número possível de participantes de diferentes gerações, em interação.
Convidamos a comunidade escolar de todas as escolas públicas e privadas, da educação pré-escolar ao ensino secundário, de Portugal continental e das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, a juntarem-se a esta iniciativa.
Convidamos as escolas/agrupamentos que integram a rede Rádio e Televisões Escolares na Net [RTEN] para que celebrem a semana com a passagem de spots alusivos e promotores da segurança [apenas som ou se possível, imagem e som]. Disponibilizamos para esse fim o “Minuto Seguro” em duas versões, em vídeo e somente áudio [mp3]. As escolas poderão ainda fazer reportagens, entrevistas, notícias, produzir e gravar peças de teatro, etc.
Para apoiar as escolas no desenvolvimento de atividades próprias na semana de 6 a 10 de Fevereiro de 2012, disponibilizamos Sugestões de Atividades e Recursos de Apoio.
Para podermos dar a merecida visibilidade à iniciativa própria de cada escola/agrupamento, solicitamos que procedam ao respetivo registo, clicando em Formulário de Registo.




Adivinha do Dia.

Dois irmãos com o mesmo nome, vão marchando com afinco, mas um dá sessenta passos, enquanto o outro dá cinco. O que é?

História do Dia.

Três Cavalos


Por António / Torrado Cristina Malaquias




Três cavalos encontraram-se numa cavalariça. Um era castanho, outro era branco e o terceiro era quase amarelo.
- Que cor tão ridícula a tua - riram-se o cavalo branco e o castanho.
- Não sei porquê. Tenho quatro patas como vocês têm. Pescoço e peito musculosos como vocês têm. Crinas como vocês têm. E relincho como vocês.
Isto relinchou o cavalo quase amarelo. Os outros dois cavalos continuaram a rir-se dele. Passaram a noite numa grande troça. O cavalo quase amarelo, para não ouvir-lhes a risota de zombaria, fez-se mula. Isto é: não lhes ligou. Fechou os olhos e adormeceu.
No dia seguinte, vieram buscá-los. Os três cavalos iam participar numa corrida.
- Partida! - gritou um senhor, levantando uma bandeirinha.
Os três cavalos desataram a correr. Ia o castanho à frente. Depois, o branco ultrapassou-o. Por fim, o cavalo quase amarelo avançou para a meta, deixando para trás o branco e o castanho. Ganhou ele a corrida.
Os outros dois cavalos é que não acharam graça nenhuma. Paciência. Já tinham rido tanto...





terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.


Sou mais vasto do que o mar e ninguém me pode ver; Todo o mundo é meu lar, sem mim não podes viver.

História do Dia.

Os Anjos-da-Guarda


Por António Torrado / Cristina Malaquias



Um vagabundo resolveu arranjar casa.
- Chega de dormir ao relento e de andar por aí, a vadiar, sem eira nem beira - disse o vagabundo. - Vou fazer uma casa só para mim.
Escolheu um sítio recatado, numa terra de ninguém, e lançou-se ao trabalho. No primeiro dia, desbastou o terreno e alisou-o. Depois, foi à vida.
Este vagabundo chamava-se Joanete.
Por coincidência, outro vagabundo também pensou que já estava em tempo de ter uma casa. Para poder levar a sua avante, tinha de procurar onde construí-la. Deu com o terreno, alisado pelo vagabundo Joanete, e disse:
- Aqui é que me calha. Está limpo e pronto para a construção. Agora é só cavar as fundações e arranjar uns troncos grossos, que segurem as paredes.
- Foi o que fez. Depois, foi à vida.
- Este vagabundo chamava-se Pé-leve.
Quando o primeiro vagabundo, o Joanete, regressou ao trabalho e viu os buracos feitos e os troncos alinhados, ficou, como é de imaginar, muito contente.
- Anda um anjo a ajudar-me - pensou.
Aplicou os troncos e foi cortar madeira para as paredes. Depois, como não tinha pregos para pregá-las, foi comprá-los.
O Pé-leve, quando chegou e viu os troncos enterrados nos buracos e a madeira empilhada, pensou:
- Tenho um anjo ao meu serviço.
E foi comprar pregos.
Entretanto, regressou o Joanete. Pregou a madeira e levantou as paredes.
O telhado deixou para depois. Foi dar um passeio.
Quando o Pé-leve voltou e viu as paredes prontas, disse:
- Tenho de ajudar o meu anjo da guarda.
E levantou o telhado. Depois foi procurar de comer.
O Joanete, acabado o passeio, vendo o telhado pronto, disse:
- O meu anjo é um portento. Só falta o soalho e uns móveis.
Foi no que se aplicou. Assoalhada a casa e mobilada, no seu essencial, só faltava habitá-la. Estava uma lindeza. Uma porta, duas janelas, uma chaminé. Que mais queria?
E o vagabundo Joanete, encantado com a sua obra, ajoelhou-se e, de mãos postas, agradeceu a mãozinha ajudadeira do seu anjo da guarda.
Mas uma voz indignada interrompeu-lhe a oração:
- Que pouca vergonha é esta? Quem o mandou entrar na minha casa?
Era o Pé-leve.
Levantou-se o Joanete e fez-lhe frente:
- A sua casa? Com que direito? Ainda agora a assoalhei e mobilei.
- Então e eu que levantei o telhado? - repontou o Pé-leve.
- Então e eu que levantei as paredes? - retorquiu o Joanete.
- E eu que cavei as fundações?
- E eu que alisei o terreno?
Pararam de altercar. Olharam um para o outro, ambos de boca aberta.
- Tu é que eras o meu anjo da guarda? - apontou o Joanete para o Pé-leve.
- O meu anjo da guarda eras tu? - apontou o Pé-leve para o Joanete.
Caíram nos braços um do outro.
E ficaram a viver juntos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

2.º Prémio Escolar António M. Couto Viana

Em homenagem à vida e à obra do escritor vianense António Manuel Couto Viana (escritor, autor de literatura infantil, poeta, ensaísta, tradutor e dramaturgo), a Câmara Municipal de Viana do Castelo criou o Prémio António Manuel Couto Viana com o objectivo de dar a conhecer a obra literária do autor e de premiar produções literárias e artísticas da população estudantil Infanto-Juvenil da comunidade escolar vianense, sob as modalidades de poesia, de conto, de ensaio e de ilustração. Desta forma, o Prémio pretende incentivar e promover novos talentos literários e artísticos, estimulando o gosto pela leitura, pela escrita e pela arte como formas de acesso à educação e à cultura.
A atribuição do Prémio António Manuel Couto Viana ocorre no âmbito da realização de um concurso, organizado pelo Município de Viana do Castelo, através da Biblioteca Municipal, em parceria com as Bibliotecas Escolares dos estabelecimentos de ensino público e privado do concelho, cujo regulamento a seguir se apresenta:

Concurso Cherub

No dia 17, pelas 13 horas e 25 minutos, teremos, na Biblioteca da escola sede, um representante da Porto Editora para proceder à entrega dos prémios a todos os participantes neste concurso.

Adivinha do Dia.


Qual é coisa, qual é ela, que tem uma perna mais comprida que a outra e noite e dia anda sem parar?

Histótria do Dia.

Ninguém é sempre perfeito

Por António Torrado/Cristina Malaquias



No tempo em que ainda não havia luz eléctrica, mas pouco faltava, quem quisesse trabalhar ou ler depois do Sol posto alumiava-se com candeeiros de petróleo. Os mais pobres, sem dinheiro para o petróleo, usavam velas de sebo.
Era o caso do poeta da nossa história. Estava ele, à noite, a escrever uns versos, iluminado apenas pela luz do luar e pela chama incerta de uma velinha a finar-se, quando uma nuvem interceptou a luz da Lua.
- Ai! - lamentou-se o poeta. - Não tarda que a vela acabe. Como vou eu conseguir terminar o poema?
Abriu a janela e gritou:
- Vento, se és meu amigo, afasta a nuvem, para que o luar volte a iluminar-me.
O vento terá ouvido o pedido e rodopiou numa súbita ventania. Tanta foi que soprou a vela do poeta. Ficou o pobre às escuras.
- Vento, tu não percebeste o que te pedi - irritou-se o poeta. - És um desastrado.
Do céu carregado de nuvens começou a cair uma valente chuvada.
- Pronto. Não precisas de chorar. Ninguém é sempre perfeito - disse o poeta ao vento.
Fechou a janela e, resignado, foi para a cama às apalpadelas. Ficou o poema em meio. Não se perdia grande coisa, que o poema valia pouco. Ninguém é sempre perfeito...




domingo, 15 de janeiro de 2012

Adivinha do Dia.

Tenho uma casa com doze damas, cada uma tem três quartos, todas têm meias e nenhuma tem sapatos.

História do Dia.

Tum-tum, Tum-tum, Tum-tum?

Por António Torrado | Cristina Malaquias



A galinha tinha ido fazer um piquenique ao pinhal, na companhia dos filhos.
Estavam eles já à volta do bolo, quando lhes apareceu um raposo raposão.
- Ora viva a bela merenda - cumprimentou o raposo.
- Quer do nosso bolo? - perguntou a galinha, a medo.
- Quero o bolo e o acompanhamento - respondeu o raposo.
O que ele queria dizer a galinha percebeu, mas fez-se de tola:
- É só o que tenho. O resto já comemos, senhor raposo.
Ele não quis saber. Em duas dentadas deu conta do bolo todo.
- Agora, venham os pintos - disse, ainda de boca cheia.
- Os pintos, senhor raposo, não prestam para o seu apetite. São só penas e ossos. Se quer coisa de mais substância, talvez eu lhe sirva?
Pela salvação dos filhos as mães dão tudo.
O raposo estava pelos ajustes. Deixou os pintos em paz, que fugiram atarantados, e ficou com a galinha.
Meteu-a num saco, que trazia às costas, dizendo:
- Hoje tenho visitas, lá em casa, e uma galinha dá sempre jeito, ao jantar.
A pobre da galinha, aos tombos, dentro do saco, matutava na sua infelicidade.
Os filhos, tão miudinhos, que iam ficar órfãos? Ela, tão nova ainda, a servir de petisco a raposas e raposões?
- Mas há-de haver uma saída - pensou a galinha, que não era de esmorecer.
Com o bico foi descosendo uma costura do saco. O coração batia-lhe, tum-tum, tum-tum, tum-tum, num sobressalto de tambor.
Para sorte dela, o raposo resolveu descansar, a meio do caminho. Estava calor e ele refastelou-se, à sombra de um sobreiro.
Quando o sentiu a dormir, a galinha escapou-se. Mas, à cautela, meteu uma grande pedra no saco e, com artes de costureira, voltou a coser a costura.
Depois, fugiu, ao encontro dos filhos.
Quase logo a seguir, o raposo acordou, cheio de fome, como sempre:
- Se não fosse ter visitas, começava o jantar mais cedo?
Para tirar daí a ideia, pôs-se a caminho. O saco pesava-lhe e ele contente:
- Está gorda esta galinha. Vai dar uma rica jantarada!
Raposos, raposas e raposecos esperavam-no.
- Trago a galinha mais gorda da capoeira. Ponham água a ferver ao lume, que quero cozê-la com arroz. Come-se primeiro a canja e, depois, a galinha.
Quando a água do panelão estava a ferver, o raposo foi buscar o saco. Raposos, raposas e raposecos puseram-se à roda do lume, para apreciar a qualidade do pitéu.
Abriu-se o saco e o pedregulho, ao cair na panela, esparramou água à volta, salpicando os convidados. Uivos de dor, em coro desafinado, soltaram-se das bocas gulosas.
Depois foi uma algazarra, todos contra o raposo que, segundo eles, lhes tinha pregado uma feia partida. Acabou tudo à bulha.
Em casa da galinha, de novo com os filhos, tanta alegria nem se descreve.
Na hora da deita, os pintainhos, aconchegados à mãe, adormeceram felizes. Até ela sentiu, no centro daquele calor bom, o coraçãozinho deles a bater ao mesmo compasso sereno do coração dela, tum-tum, tum-tum, tum-tum?
E assim adormeceu.