Catálogo da BE

domingo, 18 de novembro de 2012

QuidNovi e o valor das palavras, do amor e das diferenças.

A editora QuidNovi acaba de lançar dois livros destinados a um público infanto-juvenil. Com o Natal quase aí, o Diário Digital recomenda estas duas preciosas propostas: «José, será Mago?», que ensina o valor que as palavras devem ter; e «Como Tu», que aborda áreas que vão desde a educação sexual até à educação cívica e ambiental. Este último inclui um presente, um áudio-livro com oito músicas.
«José, será Mago?», da autoria de Mário João Alves e com ilustrações de Isabel Beleza, conta a história de dois rapazes – o Ruivo e o Carapinha – que passam a vida a seguir um escritor chamado José. E porquê? Porque o José é um mago com as palavras. Começa assim, mas num ápice os protagonistas passam a três – o Ruivo, o Carapinha e tu.
Este é o primeiro de uma série de contos dedicados a grandes «domadores» de palavras. Gente que viveu e vive para nos alargar os horizontes. Gente que é obrigatório conhecer e saborear.
O José está quase a chegar com as suas palavras, na sua jangada de pedra, para ensinar o valor que as palavras devem ter. Os autores pedem que fiques de olhos e ouvidos bem abertos e desejam-te boa viagem.
No final surgem algumas notas dedicadas a Saramago, onde se explica que «A Jangada de Pedra» foi um dos livros mais importantes de Saramago e que nele vemos a Península Ibérica libertar-se do continente europeu e fazer uma espécie de InterRail marítimo, à procura da sua identidade, do seu lugar no mundo. Saramago também procurou o seu. Foi encontrá-lo longe, numa ilha cor de cinza chamada Lanzarote. Gostou do silêncio e ficou.
Também contextualiza a história de José Saramago, nascido numa pequena povoação, em Azinhaga, junto à Golegã. Aos dois anos mudou-se para Lisboa e a sua vida, como a maior parte das vidas, passou depois sob vários céus. O céu da sua arte, refere-se nas notas, encontrou-o quando decidiu dedicar-se, a tempo inteiro, à escrita, por volta de 1975. A partir de 1998, após ter ganho o Prémio Nobel da Literatura, passou a «maguear». Fala ainda de Pilar del Rio, a «luz da sua vida», duas almas que foram retratadas no filme «José&Pilar», também feito livro, e ainda dos seus textos, um «extraordinário exemplo de como escolher as palavras certas e de como tirar delas o máximo partido».
Exemplo disso é o romance «Ensaio sobre a Lucidez», onde as palavras do escritor são mais interventivas do que nunca – um livro que retrata as eleições de um lugar em que a população vota massivamente em branco. É a forma encontrada para mostrar aos governantes o quanto estão desiludidos e revoltados com ele.
«Levantado do Chão», «A Jangada de Pedra», «O Memorial do Convento», «O evangelho Segundo Jesus Cristo», «O Ano da Morte de Ricardo Reis» ou «Ensaio sobre a Cegueira» ensinam imediatamente o significado da palavra «maguear».
«As palavras do José são simples, mas os ouvidos das pessoas não. Nuns ouvidos, a palavra reluz ao entrar em contacto com o cérebro. Noutros, a palavra perde-se no seu túnel e nunca chega a entrar em contacto com o seu pensamento. Porque as palavras que realmente interessam só revelam a sua magia em ouvidos bem abertos.»
A segunda proposta, «Como Tu», de Ana Luísa Amaral e ilustrações de Elsa Navarro, num registo bastante diferente, fala do amor e das diferenças, da infância e do crescimento, dos sentires, das transformações e da alegria. Da responsabilidade e do respeito, da vida comum a todos os seres vivos, dos espaços que vamos aprendendo a habitar. «Cuidar quer dizer proteger, guardar, unir» e «porque há tanto de gente como há tanto de mundo».
Um livro que fala do amor como se fosse feito de cambraia:
«Aos pedaços, o amor?»

Aos pedaços, o amor? Mas como pode ser?
Como pode partir-se em bocados
o amor?
O amor é como um copo
feito de cambraia
quando se atira ao chão…
Não se parte, a cambraia:
se lançarmos ao ar um lenço de cambraia,
é como um paraquedas a voar:
pode abrir-se ao ar,
mas vai chegar inteiro
ao chão (…)
O amor é uma travessa
tecida em algodão,
que mal caia no chão…
Não se pode partir o algodão:
ele é sempre macio.
Se formos dividir o algodão,
nascem de entre os seus fios coisas diferentes:
um casaco de cor, um vestido de verão,
pequena cotonete.
Separa-se o algodão,
mas não se parte: é o fio do algodão
que mais promete.»
 
                                                Por Sandra Gonçalves, in http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=602149



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